quinta-feira, 29 de março de 2012

Vitela, ou o famoso "Baby Beef"

A carne de vitela é muito apreciada por ser tenra, clara e macia. O que pouca gente sabe é que o alimento vem de muito sofrimento do bezerro macho, que desde o primeiro dia de vida é trancado num compartimento, sem espaço para se movimentar.

Assim, o animal não cria músculo e a carne se mantém macia. ”Baby beef” é o termo que designa a carne de filhotes ainda não desmamados. O mercado de vitelas nasceu como subproduto da indústria de laticínios que não aproveitava grande parte dos bezerros nascidos das vacas leiteiras. Veja como é obtido esse “produto”:

Assim que os filhotes nascem, são separados de suas mães, que permanecem por semanas mugindo pelas suas crias. Após serem removidos, os filhotes são confinados em estábulos com dimensões bem reduzidas onde permanecerão por meses em sistema de ganho de peso – alimentação que consiste de substituto para o leite materno. Um dos principais métodos de obtenção de carne branca e macia, além da imobilização total do animal para que não crie músculos, é a retirada do mineral ferro da alimentação, mantendo-os anêmicos e fornecendo o mineral somente na quantidade necessária para que não morram até o abate.

A falta do ferro é tão sentida pelos animais, que nada no estábulo pode ser feito de metal ferruginoso, pois eles entram em desespero para lamber esse tipo de material. Embora sejam animais com aversão natural à sujeira, a falta do mineral faz com que muitos comam seus próprios excrementos em busca de resíduos desse mineral. Alguns produtores contornam esse problema colocando os animais sobre ripado de madeira, onde os excrementos possam cair para um piso de concreto ao qual os animais não têm acesso.

A alimentação fornecida é líquida e altamente calórica, para que a maciez da carne seja mantida e os animais engordem rapidamente. Para que sejam forçados a comer o máximo possível, nenhuma outra fonte de líquido é fornecida, fazendo com que comam mesmo quando têm apenas sede.

Com o uso dessas técnicas, verificou-se que muitos filhotes entravam em desespero, criando úlceras pela sua agitação e descontrole no espaço reduzido. Uma solução foi encontrada pelos produtores: a ausência de janelas por onde entre a luz; a manutenção dos animais em completa escuridão durante 22 horas do dia, acendendo a luz somente nos momentos de manutenção do estábulo. No processo de confinamento, os filhotes ficam completamente imobilizados, podendo apenas mexer a cabeça para comer e agachar, sem poderem sequer se deitar.

O mercado de vitelas é conhecido como um dos mais imorais e repulsivos mercados de animais no mundo todo. Como não há no Brasil lei específica que proíba essa prática – como na Europa – o jeito é conscientizar as pessoas sobre essa questão.

Texto retirado na íntegra do livro "A Coragem de Fazer o Bem", do Instituto Nina Rosa.

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