segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

E as plantas?

Estava filosofando com uma amiga outro dia, durante um almoço vegetariano delicioso no restaurante Zen Palate (Na 9th Ave com a rua 46th) e ela comentou que já que as plantas também são seres vivos e que morrem assim que são ceifadas de sua raiz, porque não nos sentimos culpados ou mesmo paramos de comer as plantas?

Respondi comparando o sistema nervoso dos animais com o dos humanos, inclusive e principalmente quando se trata da dor física. Mas queria explicar melhor o que eu acho sobre isso, e acabei esses dias "tropeçando" nesse artigo bacana do Professor Francione. Então, deixo-o explicar por mim...

UMA PERGUNTA FREQÜENTE: E AS PLANTAS?

© 2006 Gary L. Francione
gfrancione@kinoy.rutgers.edu

© Tradução: Regina Rheda
regina.rheda@yahoo.com.br

© Ediciones Ánima - Publicado em http://www.anima.org.ar/

Texto do Blog de Gary L. Francione
13 de dezembro de 2006

Uma das perguntas feitas com mais freqüência a um vegano é: “e as plantas?”.

Na realidade, eu não conheço nenhum vegano que não tenha ouvido essa pergunta ao menos uma vez, e a maioria de nós já a ouviu muitas vezes.

Claro que ninguém que faz tal pergunta realmente acha que não podemos distinguir entre, digamos, uma galinha e um maço de alface. Isto é, se no próximo jantar você cortar um maço de alface na frente dos seus convidados, eles terão uma reação diferente daquela que teriam se você fosse cortar uma galinha viva. Se, ao caminhar pelo seu jardim, eu pisar em uma flor de propósito, você poderá, com toda razão, ficar irritado comigo, mas, se eu chutasse de propósito seu cachorro, você ficaria irritado comigo de um modo diferente. Ninguém considera esses dois atos equivalentes. Todo mundo reconhece que há uma importante diferença entre a planta e o cachorro, diferença essa que torna o ato de chutar o cachorro mais grave, no plano moral, do que o ato de pisar em uma flor.

A diferença entre o animal e a planta envolve a senciência. Isto é, os animais não-humanos—ou pelo menos aqueles que costumamos explorar—sem dúvida são conscientes de suas percepções sensoriais. Os animais sencientes têm mentes; eles têm preferências, desejos ou vontades. Isso não quer dizer que as mentes dos animais sejam como as mentes dos humanos. Por exemplo, pode ser que as mentes dos humanos, que usam uma linguagem simbólica para se orientar pelo seu mundo, sejam bem diferentes das mentes dos morcegos, que usam a ecolocalização para se orientar no mundo deles. É difícil saber ao certo. Mas isso é irrelevante; o que importa é que tanto o humano quanto o morcego são sencientes. Ambos são aqueles tipos de seres que têm interesses; ambos têm preferências, desejos ou vontades. O humano e o morcego podem pensar diferentemente sobre tais interesses, mas não pode haver a menor dúvida de que ambos têm interesses, inclusive o interesse em evitar a dor e o sofrimento, e o interesse em continuar a viver.

As plantas são diferentes, no plano qualitativo, dos animais humanos e dos animais não-humanos sencientes, pois as plantas com certeza são seres vivos, mas não são sencientes. As plantas não têm interesses. Não há nada que a planta deseje, ou queira, ou prefira, porque não há nenhuma mente, ali, para se incumbir de tais atividades cognitivas. Quando dizemos que uma planta “precisa” de água ou “quer” água, não estamos afirmando nada sobre o estado mental da planta, assim como não estamos afirmando nada sobre o estado mental do motor de um carro quando dizemos que ele “precisa” de óleo ou “quer” óleo. Pode ser do meu interesse pôr óleo no meu carro. Mas não é do interesse do meu carro: meu carro não tem interesses.

Uma planta pode reagir à luz do sol e a outros estímulos, mas isso não significa que a planta seja senciente. Se eu fizer uma corrente elétrica passar por um fio ligado a uma campainha, a campainha toca. Mas isso não significa que a campainha seja senciente. As plantas não têm sistema nervoso, receptores benzodiazepínicos, nem qualquer outra característica que associamos à senciência. E tudo isso faz sentido em termos científicos. Por que as plantas desenvolveriam a capacidade de ser sencientes, se elas não podem fazer nada para reagir a um ato que as danifica? Se você encostar uma chama em uma planta, a planta não pode fugir; ela continua exatamente onde está e queima. Mas se você encostasse uma chama em um cachorro, o cachorro faria exatamente o que você faria—gritaria de dor e tentaria fugir da chama. A senciência é uma característica que evoluiu em certos seres para capacitá-los a sobreviver escapando de um estímulo nocivo. A senciência não seria de nenhuma utilidade para uma planta; as plantas não podem “escapar”.

Eu não estou querendo dizer que não podemos ter obrigações morais concernentes às plantas, mas sim que não podemos ter obrigações morais para com as plantas. Isto é, podemos ter a obrigação moral de não cortar uma árvore, mas essa não é uma obrigação moral que temos para com a árvore. A árvore não é o tipo de entidade para com o qual podemos ter obrigações morais. Podemos ter uma obrigação moral, isso sim, para com todas as criaturas sencientes que vivem na árvore ou dependem dela para sua sobrevivência. Podemos ter a obrigação moral para com os outros animais humanos e não-humanos que habitam o planeta de não derrubar árvores de modo irresponsável. Mas não podemos ter quaisquer obrigações morais para com a árvore; podemos ter obrigações morais apenas para com os seres sencientes, e a árvore não é senciente nem tem interesses. Não há nada que a árvore prefira, queira ou deseje. A árvore não é o tipo de entidade que se importa com o que fazemos a ela. O esquilo e os pássaros que vivem na árvore certamente têm interesse em que não cortemos a árvore, mas a árvore não. Pode ser errado, no plano moral, cortar uma árvore irresponsavelmente, mas esse é um ato qualitativamente diferente do ato de atirar em um veado, por exemplo.

Falar sobre os “direitos” das árvores, como algumas pessoas fazem, é um convite a equiparar árvores a animais não-humanos, e isso só pode funcionar em detrimento dos animais. De fato, é comum ouvirmos os ambientalistas falarem sobre nossa responsabilidade no gerenciamento dos nossos recursos naturais e incluírem os animais não-humanos entre os “recursos” a serem gerenciados. Isso é um problema para aqueles de nós que não vêem os animais não-humanos como “recursos” para nosso uso. As árvores e as outras plantas são recursos que podemos usar. Temos a obrigação de usar tais recursos com sabedoria, mas essa é uma obrigação que temos apenas para com outras pessoas, sejam elas humanas ou não-humanas.

Finalmente, uma variante da pergunta sobre as plantas é esta: “e o insetos—eles são sencientes?”.

Eu não tenho conhecimento de ninguém que de fato saiba a resposta a essa questão. Eu certamente concedo aos insetos o benefício da dúvida. Não mato insetos na minha casa e tento nunca pisar neles quando estou andando. No caso desses animais, talvez seja difícil traçar o limite, mas isso não quer dizer que um limite não possa ser traçado—e com clareza—na maioria das vezes. A cada ano, só nos EUA, matamos e comemos pelo menos dez bilhões de animais terrestres. Esse número não inclui os animais marinhos que também matamos e comemos. Talvez haja uma dúvida sobre os moluscos serem sencientes ou não, mas não há a menor dúvida de que todas as vacas, galinhas, porcos, perus, peixes, etc. são sencientes. Os animais não-humanos dos quais tiramos o leite e os ovos são, indubitavelmente, sencientes.

O fato de não sabermos, ao certo, se os insetos são sencientes não significa que temos alguma dúvida quanto à senciência destes outros animais não-humanos; não temos. E é claro que é um absurdo dizer que, já que não sabemos, ao certo, se os insetos são sencientes, então não podemos avaliar a moralidade de comer a carne dos não-humanos que, temos certeza, são sencientes, ou de usar os produtos provenientes desses não-humanos, ou de trazer esses não-humanos domesticados à existência para o propósito de usá-los como nossos “recursos”.

Via Sentiens

10 comentários:

All about... (vegan) food disse...

Adorei ver esse assunto aqui, ainda mais em um post tão bom. Sempre ouvimos essa pergunta sobre as plantas né... Para o próximo que me perguntar, passarei o seu blog! eheh
Beijos

Carla Beatriz disse...

Andréa,

Texto muito interessante! Eu estou cansada de ouvir comentários idiotas do tipo: "Ah, vc não come a galinha, mas come um tomate, que também sente "dor". Vc é uma assassina de verduras!" Agora já tenho argumentos convincetes para rebater uma afirmação dessas.

Beijos

Fernanda França disse...

Adorei!! Outro dia eu e marido falávamos justamente sobre isso, obrigada. E sabe que mesmo sem saber, inconscientemente, nós não matamos nunca os insetos em casa? (salvo baratas, sorry, mas barata é inseto? sei lá, rsrsrs). Mas como moramos no interior, é só abrir a janela e eles entram... se eu quero que saiam, eu os pego (ou marido, perito nisso) com cuidado e coloco pra fora. Não consigo matar... e não vejo motivos pra isso. beijos!! Fe.

Carlota disse...

Andréa,

muito bom o post. Queria saber se você tem uma receita de Oatmeal..vejo em muitos blogs veganos americanos que eles comem bastante no café-da-manhã..mas eles não colocam receitas..

Abraços,

CARLOTA

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
Andrea, gostei de comhecer seu blog. Não sou vegetariana mas, como resolução de vida eu me comprometi a tentar. Já consegui diminuir o consumo de carne em quase 50% e isso tem sido muito bom. Daí então que eu estou buscando conhecer mais sobre vegetarianismo e, coisa que eu só soube recentemente que existe, veganismo.Estou começando devagar mas quero que saiba que seus posts são muito esclarecedores.
Fica com Deus.

Anônimo disse...

Igualdad Animal responde a Campofrio:

La empresa de productos cárnicos Campofrio, muestra de nuevo su anuncio en el que ridiculizan a los vegetarianos.

Igualdad Animal les responde a través de una impactante investigación realizada en una de las granjas que les suministra.

Sufrimiento, enfermedades, muerte, mutilaciones..la verdad que Campofrio se afana por ocultar

Conoce la realidad:
http://www.investigacionesanimales.org/

Se ruega la máxima difusión:
http://www.igualdadanimal.org

Carla Beatriz disse...

Andréa,

Tem um Selo para ti lá no Vai, Carla! Ser Gauche na Vida!

Vai lá conferir!

Beijos

Andréa disse...

Carlota, achei duas receitas veganas de oatmeal (em ingles): http://vegan-food.suite101.com/article.cfm/vegan_oatmeal_recipes
Se precisar que eu traduza alguma coisa, eh soh falar!

Elaine, seja bem-vinda! E obrigada!

Carla, obrigada, vou la ver o selinho!

Cristina disse...

Oi, Andréa! Conheci seu blog através do André, e desde então eu tenho adorado seus posts.
Esse em especial me chamou a atenção e eu queria sua permissão pra publicá-lo no meu blog.
Depois me passa seu e-mail pra gente poder conversar, queria que vc participasse em um dos posts lá no meu blog.
beijos
Cris

Andréa disse...

Oi Cristina, seja bem-vinda! Claro que pode publicar o post no seu blog! Escreva pra mim no brazilnutblog@live.com
Beijão.

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